O Fruto da Vingança

Eu acho lamentável o quanto a doutrina da vingança é enaltecida nessas terras tupiniquins. Por aqui, ser alguém vingativo é uma atitude louvável e o ensinamento de sabedoria cristã sobre o “dar a outra face” é visto como pieguice. Certamente é porque não compreendem que onde houver vingança a justiça jamais será estabelecida.

“A vingança nunca é plena. Mata a alma e a envenena”. Quem nunca tiver ouvido essa grande verdade filosófica repetida à exaustão pelo inesquecível Seu Madruga em um dos episódios mais memoráveis do seriado Chaves ou não teve infância ou está morto por dentro. Ela é boazinha demais de se recitar. Já praticar é um grande desafio!

E isso me faz lembrar de uma história que eu escutei no século passado, numa tarde chuvosa de outubro, quando meu avô Antônio Soares, hoje não mais neste plano, parou pra me contar enquanto me servia um café com leite com pedaços de pão picado. Sim, o pedaço de pão francês tinha que ser dividido entre a família e a melhor forma de faze-lo render era seguir o exemplo de Cristo e parti-lo em diversos pedacinhos.

E a história era mais ou menos assim: O menino chega em casa bufando de raiva de um colega da escola que o humilhou na frente de seus amigos. Em vão, seu pai tenta acalmá-lo. Percebendo, então, que ele precisa “botar pra fora” sua raiva, o pai propõe-lhe uma forma alternativa de vingança:
– Vê aquela camiseta branca no varal, filho? Pois, bem, imagine que aquela camiseta é o menino que te aborreceu. Pegue aqui neste saco alguns pedaços de carvão e atire bem no peito dele. Vamos ver quantas vezes você é capaz de acertá-lo, até que sua raiva passe.
A coisa toda pareceu-lhe boba, mas ele aceitou, afinal de contas seu pai estava do seu lado. Errou algumas, acertou outras, mas atirou até a última pedra de carvão que havia no saco. No fim o pai perguntou-lhe:
– E aí, filhão, como se sente?
– Cansado, disse ele sorrindo, mas, em compensação, olha só como ficou a camiseta!
O pai, então, convida-o a entrar e o coloca diante de um espelho. O menino leva um susto ao ver o quanto ficou sujo ao manusear o carvão, e o pai lhe diz:
– Assim é a vingança filho, você sempre acabará ficando sujo enquanto estiver atacando a pessoa que odeia. Perdoar é melhor!

Toda vez que procuramos nos vingar de alguém, o que estamos fazendo é ampliar a ação que tanto nos machucou. Ofender alguém que tenha nos ofendido não faz a dor que a ofensa nos causou desaparecer. O máximo que ela pode alcançar é que o outro também sinta dor, que nem de longe será a mesma que a nossa.

A melhor alternativa à vingança é o perdão, que não é o mesmo que esquecimento ou fingir que nada ocorreu. Consiste, na verdade, em não engolir o veneno que nos foi oferecido e não dar ao ofensor o poder de tirar a nossa paz.

Do ponto de vista da Espiritualidade, perdão é cortar o efeito da má obra sobre nós, o que faz com que aquele que está procurando de alguma maneira nos afrontar acabe ficando com as consequências de seus atos pra si próprio sem nos atingir. Já a vingança nos leva pra o mesmo nível daquele que nos aflige e faz com que compartilhemos de seus débitos espirituais.

Nós do Ibesva, através da Pastoral Leão de Judá, ensinamos nossos seguidores e beneficiários a aplicar os princípios espirituais contidos na doutrina de Jesus de Nazaré para que possam ter uma vida mental saudável e espiritualmente produtiva. E sabemos que uma mente vingativa jamais alcançará este nível de consciência, tão desejável para os que aspiram viver em paz!
Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; se, porém, não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai perdoará vossas ofensas. (Mateus 6.14-15)